14 julho 2004

Sobre Ernesto "Fuser" Guevara e Diários de Motocicleta

Se eu ainda estivesse com meus 21 anos, eu teria dito que "Diários de Motocicleta" é o melhor filme do mundo...
Uma road trip no mínimo empolgante, como qualquer um gostaria de viver na sua juventude, como eu ainda quero; afinal, juventude, baby, sempre será um estado de espírito.


Muito bonito, o filme me rejuvenesceu uns anos, me fez voltar a minha época de movimento estudantil, da época em que mudar o mundo era uma coisa palpável. Uma idade em que eu tinha ideais, sonhos, sensibilidade. E é justamente isso, a sensibilidade que o jovem Ernesto "Fuser" Guevara vai despertando para as injustiças que encontra no caminho, o que mais salta aos olhos do espectador. Não foi um retrato pintado, com o propósito de compor um herói, um protagonista perfeito, o que aliás, Ernesto nunca foi. Era mulherengo - talvez menos que seu amigo Alberto - roubava para comer e não tinha nem o pudor de mentir para uma cidade inteira... Enfim, mais humano impossível.

Ernesto passou longe de um Santo. Era hesitante com as pessoas e fisicamente muito frágil, inclusive, um asmático grave que beirou a morte em diversas ocasiões... Enfim, mais humano, impossível, vemos um Che desmitificado, uma pessoa como eu e você, baby. Mas a miséria humana em que estavam imersos os habitantes da latino-america arrasada por anos de exploração como colônias ibéricas atravessa a alma do jovem Che como ele próprio atravessou América... Profunda e inquietantemente.

Aqui também, como podemos ser eu e você, ele foi envolto por um sentimento de que coletividade, de pertencer a um povo sofrido, explorado, vítima de injustiças sociais...
Ser médico também contribui para esse processo. O contato humano que o jovem Che travava não tinha interesses puramente científicos, mas humanos. Não lhe interessavam os doentes, mas as pessoas. Como médico, ex-militante do movimento estudantil, vivi o mesmo processo.


Infelizmente, no fim da faculdade, eu estava mais pra Alberto Granado que para Ernesto Guevara. E foi esse o caminho que segui. Mas, como no fim do filme, sinto ainda a mesma inquietação dentro do peito, algo em mim mudou para sempre depois das viagens do movimento estudantil. E sei que ainda tenho uma história para viver, pelos meus ideais, junto ao jovem Che que um dia fui.

Não vou pegar em armas, nem bombardear a embaixada americana (ainda que de vez em quando até dê vontade).
Vou fazer o mínimo, pra começar: trabalho voluntário. Quanto o jovem "Fuser" e "Mial" cobraram para dar toda aquela ajuda ao leprosário? Nada.
E tudo que ganharam em troca, teve preço?

* * *

Nesse dia, depois do filme, ajudei uma velhinha a descer as escadas do metrô. Li um livro. Ganhei carinho de pessoas muito amadas. Matutei um pouco mais sobre os meus sonhos de um Instituto Materno Infantil em Sergipe. Filantrópico.
Tomei vinho tinto deitado no sofá.
Estava muito feliz, apesar dos meus defeitos e todos os meus pecados, estava feliz pra caralho.
Sei que lá fora na rua milhares passavam frio e fome.
Mas eu me importo com eles, e quero fazer algo para mudar suas vidas para melhor.

E você?

* lennon is planning a little revolution *

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